Não saias fora de ti, mas volta para dentro de ti mesmo; a Verdade habita no coração do homem.
Santo Agostinho
[A verdadeira religião, 39,72]
Num de seus primeiros textos, escrito aos 36 anos, intitulado De vera religione, “A verdadeira religião”, Santo Agostinho afirma o imperativo de que o homem adentre o interior de si mesmo como forma de aceder à Verdade. Nesse texto está posta a fascinante dialética da interioridade agostiniana, resumida em três pressupostos: 1. o afastamento do mundo (não saias de ti); 2. o cultivo da introversão (volta para dentro de ti mesmo); 3. o salto para a transcendência de Deus (vai além de ti mesmo). [Santo Agostinho. A Verdadeira Religião; O cuidado devido aos mortos. Trad. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002. – (Patrística, 19), nota 22.]
A propósito, vale a pena citar na íntegra o parágrafo do texto no qual o bispo de Hipona expõe o seu projeto para o homem que anseia pela realização de seu ser transcendente. Diz ele: “Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem. E se não encontrares senão a tua natureza sujeita a mudanças, vai além de ti mesmo. E, te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirige-te à fonte da própria luz da razão”. [A verdadeira religião, p. 98]
Na perspectiva agostiniana, Deus, embora transcendente, manifesta-se a partir da intimidade do próprio indivíduo. Isso quer dizer que somente vasculhando o âmago de si mesmo, penetrando sua mais recôndita intimidade, é que o homem poderá aceder à experiência de Deus. Daí porque o conhecimento de si mesmo impõe-se como condição sine qua non para o conhecimento de Deus. Qualquer possibilidade de transcendência, portanto, começa, necessariamente, por um processo de interiorização do homem, condição nem sempre aceita nos dias atuais, uma vez que tudo leva à superficialidade e à precipitação do indivíduo para fora de si mesmo.
Domvasco
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