Existe em toda religião um núcleo de verdades incontestáveis, existe um momento de inserção no real e no social através de um conjunto de crenças que dá a uma determinada religião uma face e uma fisionomia próprias. Esse conjunto de crenças, porém, não surge do nada, mas é fruto de uma tradição que se formou e solidificou em torno de um centro e de um referente que pode ser a revelação de Deus, a experiência profunda de videntes, um evento miraculoso, uma história ou um mito revelado pelos próprios deuses.
Aldo Natale Terrin
[Antropologia e horizontes do sagrado: cultura e religiões. Trad. Euclides Luiz Calloni. - São Paulo: Paulus, 2004, p. 392.]
Os motivos que levam uma pessoa a assumir uma determinada religião são muitos. O mais comum é que, se uma pessoa nasce numa família de forte tradição religiosa, assuma, quando adulto, a mesma religião praticada pelos pais. Provavelmente a maioria dos crentes (entenda-se crente como o praticante de qualquer religião) se enquadra nessa categoria. Uma vez adquirido o hábito de praticar aquela religião que lhe foi legada pelos pais, não ocorrerá ao praticante questioná-la, tomando suas verdades como dados apriorísticos, verdades em si mesmas.
Entretanto, há outro grupo de pessoas que, por motivos diversos, resolvem buscar por si mesmas, por esforço próprio, uma religião à qual aderir. Neste caso, o percurso nem sempre é fácil. De fato afirmaria que é um percurso muito difícil e tortuoso. A primeira questão que este buscador terá que enfrentar é, sem dúvida, a mais difícil de responder: “Qual a religião verdadeira?” Aos que se lançam em busca de uma resposta para esta difícil indagação, porém, muitas vezes não ocorre a percepção de que há uma outra questão que antece a essa, qual seja: “Existe uma religião que possa ser denominada a verdadeira religião?”
Qualquer religião está ancorada em dois pilares: um de ordem sobrenatural e outro de ordem cultural. Quem se aventurar pelo fascinante mundo do estudo comparado das religiões, será inevitavelmente levado a concluir que o elemento sobrenatural é comum a todas as religiões. Quanto a esse aspecto, as religiões guardam entre si uma semelhança muito grande, podendo-se dizer que este é o elemento que as une. No entanto, como são diversas as culturas, são diversas as formas de revenciar o Sagrado, elemento basilar de todas as religões. E, por este motivo, as religiões divergem entre si. Isso posto, não é possível afirmar qual a religião verdadeira ou, nem mesmo, se há uma religião à qual possa ser imputado o rótulo de “a verdadeira religião”. Essa questão, portanto, não admite uma resposta genérica, só podendo ser respondida sob a perspectiva individual, a partir do sentido existencial que o crente atribui à religião.
Domvasco
terça-feira, 9 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
NOLI FORAS IRE...
Não saias fora de ti, mas volta para dentro de ti mesmo; a Verdade habita no coração do homem.
Santo Agostinho
[A verdadeira religião, 39,72]
Num de seus primeiros textos, escrito aos 36 anos, intitulado De vera religione, “A verdadeira religião”, Santo Agostinho afirma o imperativo de que o homem adentre o interior de si mesmo como forma de aceder à Verdade. Nesse texto está posta a fascinante dialética da interioridade agostiniana, resumida em três pressupostos: 1. o afastamento do mundo (não saias de ti); 2. o cultivo da introversão (volta para dentro de ti mesmo); 3. o salto para a transcendência de Deus (vai além de ti mesmo). [Santo Agostinho. A Verdadeira Religião; O cuidado devido aos mortos. Trad. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002. – (Patrística, 19), nota 22.]
A propósito, vale a pena citar na íntegra o parágrafo do texto no qual o bispo de Hipona expõe o seu projeto para o homem que anseia pela realização de seu ser transcendente. Diz ele: “Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem. E se não encontrares senão a tua natureza sujeita a mudanças, vai além de ti mesmo. E, te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirige-te à fonte da própria luz da razão”. [A verdadeira religião, p. 98]
Na perspectiva agostiniana, Deus, embora transcendente, manifesta-se a partir da intimidade do próprio indivíduo. Isso quer dizer que somente vasculhando o âmago de si mesmo, penetrando sua mais recôndita intimidade, é que o homem poderá aceder à experiência de Deus. Daí porque o conhecimento de si mesmo impõe-se como condição sine qua non para o conhecimento de Deus. Qualquer possibilidade de transcendência, portanto, começa, necessariamente, por um processo de interiorização do homem, condição nem sempre aceita nos dias atuais, uma vez que tudo leva à superficialidade e à precipitação do indivíduo para fora de si mesmo.
Domvasco
Santo Agostinho
[A verdadeira religião, 39,72]
Num de seus primeiros textos, escrito aos 36 anos, intitulado De vera religione, “A verdadeira religião”, Santo Agostinho afirma o imperativo de que o homem adentre o interior de si mesmo como forma de aceder à Verdade. Nesse texto está posta a fascinante dialética da interioridade agostiniana, resumida em três pressupostos: 1. o afastamento do mundo (não saias de ti); 2. o cultivo da introversão (volta para dentro de ti mesmo); 3. o salto para a transcendência de Deus (vai além de ti mesmo). [Santo Agostinho. A Verdadeira Religião; O cuidado devido aos mortos. Trad. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002. – (Patrística, 19), nota 22.]
A propósito, vale a pena citar na íntegra o parágrafo do texto no qual o bispo de Hipona expõe o seu projeto para o homem que anseia pela realização de seu ser transcendente. Diz ele: “Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem. E se não encontrares senão a tua natureza sujeita a mudanças, vai além de ti mesmo. E, te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirige-te à fonte da própria luz da razão”. [A verdadeira religião, p. 98]
Na perspectiva agostiniana, Deus, embora transcendente, manifesta-se a partir da intimidade do próprio indivíduo. Isso quer dizer que somente vasculhando o âmago de si mesmo, penetrando sua mais recôndita intimidade, é que o homem poderá aceder à experiência de Deus. Daí porque o conhecimento de si mesmo impõe-se como condição sine qua non para o conhecimento de Deus. Qualquer possibilidade de transcendência, portanto, começa, necessariamente, por um processo de interiorização do homem, condição nem sempre aceita nos dias atuais, uma vez que tudo leva à superficialidade e à precipitação do indivíduo para fora de si mesmo.
Domvasco
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